As pessoas que se exercitam têm em sua corrente sanguínea proteínas diferentes daquelas presentes no sangue de pessoas sedentárias, de acordo com um estudo novo e interessante das características internas de indivíduos ativos e não ativos.
As proteínas em questão afetam muitos aspectos de nosso corpo, desde a resposta imune e dos níveis de açúcar no sangue até a cicatrização de uma ferida, de modo que os novos achados podem nos aproximar da compreensão de como o exercício aumenta nossa saúde em um nível molecular profundo.
Até agora, todos concordamos, espero, que ser fisicamente ativo faz bem. Aumenta o condicionamento físico, reduz o risco de doenças, prolonga a vida, melhora a saúde do coração e, de várias outras maneiras distintas, nos fortalece e nos torna mais saudáveis.
Mas os cientistas não têm um grande conhecimento de como o exercício proporciona tudo isso. Eles podem ver ou medir a maioria dos resultados desejáveis, mas muitos dos passos fisiológicos subjacentes e intrincados envolvidos no processo permanecem misteriosos.
Nos últimos anos, porém, tem havido um crescente interesse científico em aprofundar as várias “ômicas” dos exercícios. De modo geral, ômicas referem-se à identificação e ao estudo de moléculas relacionadas a diferentes processos biológicos, e como ambos trabalham juntos. A genômica, por exemplo, analisa as moléculas relacionadas às operações dos genes; a metabolômica estuda aquelas envolvidas em nosso metabolismo, e assim por diante.
Mas um dos campos mais atraentes é a proteômica, porque se concentra nas proteínas, que são expressas por genes e, subsequentemente, iniciam muitos outros processos fisiológicos por todo o nosso corpo.
As proteínas estão no centro de nossa atarefada biologia interior.
Mas quase nada se sabe sobre a proteômica das pessoas que se exercitam e se, e como, ela pode diferir daquela das pessoas que raramente se movimentam, e o que isso significa para quem é ativo.
Assim, para o novo estudo, que foi publicado em novembro no “Journal of Applied Physiology”, pesquisadores da Universidade do Colorado, em Boulder, começaram a examinar as proteínas de várias pessoas.
Eles primeiro reuniram 31 homens e mulheres jovens saudáveis, cerca de metade dos quais se exercitavam regularmente, enquanto que o restante, não. Recrutaram também um grupo adicional de 16 homens saudáveis de meia-idade e mais velhos, metade deles fisicamente ativos e os outros sedentários. Mediram a aptidão aeróbica e os marcadores de saúde de todos, incluindo pressão sanguínea e controle de insulina. Depois, coletaram sangue dos participantes e o enviaram para análise proteômica.
Nesse estudo, a análise buscou a presença ou a ausência de cerca de 1.100 proteínas conhecidas, além de pequenos indicadores fisiológicos que mostravam se certas proteínas haviam ou não sido expressas, ou ativadas, ao mesmo tempo, além de tentar ver se estavam inter-relacionadas.
A análise constatou que, em geral, cerca de 800 proteínas no sangue dos voluntários têm marcas que mostram que estavam inter-relacionadas.
Os pesquisadores agruparam essas proteínas com base no modo como pareciam relacionadas. Por fim, acabaram com 10 “módulos” diferentes delas, concluindo que provavelmente estariam trabalhando em conjunto para realizar várias tarefas fisiológicas.
Cada módulo continha algo entre 14 e mais de 500 proteínas relacionadas, embora as quantidades de cada uma dentro de um módulo pudessem variar de pessoa para pessoa.
Curiosamente, as 800 proteínas incluíam muitas que já são conhecidas por estar envolvidas em processos relacionados à saúde, como iniciar ou retardar uma inflamação e outras respostas do sistema imunológico.
Finalmente, os analistas checaram se a composição dos 10 módulos diferia nas pessoas ativas.
E muitos diferiam. Em cinco deles, de fato, os níveis de determinadas proteínas variavam, às vezes substancialmente, caso a pessoa fosse ativa ou sedentária. Muitas das diferenças eram evidentes tanto nos participantes mais jovens quanto nos de meia-idade.
Talvez o mais importante: os pesquisadores também encontraram correlações entre a composição dos módulos e a saúde. As pessoas que se exercitavam e tinham semelhanças em vários níveis de proteínas também tendiam a ter boa pressão sanguínea e resposta insulínica, com o oposto ocorrendo com os voluntários inativos.
Esses dados sugerem que as mudanças nos níveis de proteína podem ser centrais no complexo processo pelo qual o exercício se transforma em bem-estar.
Porém muitas etapas permanecem sem explicação, disse Douglas Seals, professor de Fisiologia Integrativa que supervisionou o estudo.
Ainda não se esclareceu, por exemplo, quais mensagens moleculares dentro do corpo fazem com que este produza algumas proteínas específicas após o exercício, disse ele, ou exatamente como essas proteínas começam as reações biológicas em cadeia que levam a outras mudanças.
O estudo também analisou apenas as pessoas que estavam se exercitando havia algum tempo, e não pôde dizer se proteínas diferentes seriam encontradas em pessoas sedentárias que começam a se exercitar, ou se alguma ou todas elas seriam diferentes após o exercício. Também não foi possível fazer uma distinção entre as proteínas que podem deixar as pessoas mais saudáveis e aquelas que as pessoas podem ter porque já são saudáveis.
Essas são todas as questões que os cientistas da atividade física irão abordar nos próximos anos, disse Seals.
“O exercício faz muitas coisas boas. A próxima fronteira é entender como”, concluiu ele.
Por Gretchen Reynolds
Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br